PERFIL: “EU SEMPRE ME SENTI CHAMADO”
Psicopedagogo, trabalhador do Geae sonha com projeto voltado à educação e anda atrás de seus sonhos
Da Redação
A fala é mansa e sempre bem humorada. A atitude é de acolhimento e ele parece nunca ter pressa ou coisa mais importante pra fazer quando fala com alguém. É um ouvinte paciente e amoroso. Os problemas entram grandes em sua sala e dela saem menores. E todos os que o conhecem apontam uma mesma característica marcante: a serenidade. Assim é André Luís Campos, diretor dos departamentos de assistência e de projeto social do Grupo Espírita Abrigo da Esperança (Geae), que se declara uma pessoa elétrica. De certa forma, é verdade: ele faz várias coisas ao mesmo tempo, com qualidade e foco, mas também é uma pessoa calma e leve. “Eu gosto de fazer um pouquinho de cada coisa. Mas não tenho pressa, eu sei onde quero chegar”, afirma.
Mobilizado em diversas atividades na Casa, ele hoje dá passos decisivos na direção do que aponta como sua principal vocação e interesse: educar. André formulou e coordena as iniciativas para a implantação do Projeto Aprender, que o Geae lançará em fevereiro de 2016, destinado ao reforço escolar para crianças e adolescentes. A meta é atender 100 crianças diariamente, funcionando de segunda a sexta em período integral, oferecendo almoço, dois lanches e mais o café da manhã. “Na Casa espírita, o que eu mais gosto é do trabalho social. E o meu trabalho social chama-se educação”, diz. “É a educação que nos permite resgatar a dignidade humana, especialmente de crianças”. André conta que, desde 1994, cultiva o sonho de fundar uma escola, com um modelo que fuja do convencional e tenha como foco a formação de crianças e adolescentes com critérios diferenciados e sustentados na doutrina espírita. “O Projeto Aprender é a menina dos meus olhos, estou resgatando um projeto antigo. É uma semente que germinou no tempo certo”.
O Espiritismo e a vontade de ajudar o próximo fazem parte de sua vida desde a infância, exemplo marcante que guarda dos pais. André nasceu no Rio de Janeiro em 1957, filho do meio em uma família de três irmãos – o pai, Irineu, e a mãe, Zenith, eram espíritas e atuantes. Desse período, recorda o acesso à literatura espírita e espiritualista em uma rotina que incluía o hábito da mãe de ler para os filhos obras importantes, como Nosso Lar. O pai, conta, era um leitor voraz e de gosto variado. A família mudou-se para Brasília em 1959 – chefe de cozinha do Cassino da Urca, seu pai decidiu tentar a vida na nova capital federal e tornou-se cozinheiro-chefe do Hospital de Base. Com nove anos, André começou a frequentar a Sociedade Espírita de Assistência e Estudo (SEAE). “Ia a família toda. Fazíamos uma parte do trajeto de ônibus e depois tínhamos de caminhar uns dois quilômetros para chegar lá”, recorda. Já nesse período, comenta, sentia uma afinidade natural com o ambiente e a rotina da Casa – aos 14 anos iniciou o desenvolvimento mediúnico e aprofundou seu mergulho na espiritualidade. Muitas vezes, diz, fazia o Evangelho no Lar sozinho.
MUDANÇA DE RUMO – Foram anos de muita leitura e pouca convivência com a garotada. André recorda ter sido uma criança tímida e reservada, de poucas palavras. Gostava mesmo era de ler. Aos 16 anos, começou no movimento de mocidade do SEAE e descobriu um outro lado seu: participando das aulas e da evangelização, começou a falar. “É como se eu fosse duas pessoas. Sempre fui muito quieto, mas no centro falava muito”, recorda. Hoje, admite o gosto pela palestra, mas ainda resiste a aceitar ter-se tornado um orador brilhante. Adulto, fez teatro e participou de um grupo de música dando um adeus definitivo à timidez. “Sou uma pessoa comum”, avisa.
André brinca que trocou de letra – do SEAE para o Geae, casa que frequenta desde o ano 2.000, quando mudou-se com a família para o Guará, onde tem muitos amigos e admiradores. “Ele discursou na minha festa de casamento”, lembra Ana Paula Aguiar, presidente da Casa, que trocou alianças em uma cerimônia ecumênica em que o amigo proferiu uma benção especial. “Ele é até hoje um parceiro ideal. Muitas vezes, quando não vejo saída para alguma coisa, o André olha com aquela carinha de tranquilidade e diz: isso, a gente faz assim, assim e assim. Simples assim. E até hoje eu me surpreendo com as saídas do André, que faz tudo parecer muito simples”, conta. “Nunca vi André alterado. Ele dá um ar de naturalidade e tranquilidade para tudo”, afirma Ana Paula.
“Ele é só coração e recebe todo mundo muito bem, com amor e carinho”, endossa Flávia de Paiva Barbosa, trabalhadora do Geae, outra noiva abençoada por André. “Ele fez o meu casamento e eu não tenho palavras para falar da importância que ele tem aqui na Casa e para mim. A serenidade, a forma como ele envolve as pessoas com amor fazem diferença”, comenta. “Ele é uma pessoa maravilhosa, luz pura”, diz Fabrício Alves Pereira, outro voluntário do Geae. “Tem muita vontade de ajudar o próximo, é muito calmo e transmite muita serenidade”.
Casado com Lílian e pai de cinco filhos, André anda cheio de planos. Depois de uma vida inteira dedicada à informática, há 15 anos ele decidiu mudar de área e construiu uma trajetória sólida como psicopedagogo – essa guinada coincide com o momento em que ele conheceu e passou a frequentar e trabalhar no Geae. “Eu sempre me senti chamado. Faço três coisas ao mesmo tempo e sempre gostei de ajudar. Canalizo minha energia nisso e lembro do exemplo dos meus pais”, diz. “A doutrina espírita é o norte da minha vida. Tudo o mais vem como complemento”. Enquanto finaliza os preparativos do Projeto Aprender, ele costura novos passos na vida pessoal: em 2016 vai montar seu primeiro consultório, consolidando a vocação para terapeuta holístico. E já colocou no horizonte a ideia de fundar uma creche, que planeja tocar com a ajuda da esposa e da filha. “Mas isso é para quando eu me aposentar”, avisa.