O Espiritismo encontrou no Brasil, condições culturais e etnológicas favoráveis à sua propagação e foi aqui que ele se projetou de maneira mais evidente no campo educacional. Resultado de uma ampla mistura de raças e povos, nosso país ofereceu o espaço necessário à aceitação e propagação do Espiritismo sem maiores conflitos.
Kardec não foi apenas o iniciador da Educação Espírita, mas também o primeiro a presenciar os seus frutos. Na Revista Espírita de Fevereiro de 1864, no editorial intitulado “Primeiras lições de moral na infância” (página 37 da edição brasileira) ele analisa algumas contribuições do Espiritismo para a modificação do modelo educacional vigente: “Ele (o Espiritismo) já prova a sua eficácia pela maneira mais racional por que sãoeducadas as crianças nas famílias verdadeiramente espíritas”. Esse testemunho de Kardec mostra que essa nova forma de educação é resultante da nova concepção do mundo trazida pelo Espiritismo.
Infelizmente, encontramos no meio Espírita companheiros que chegam a estranhar que se fale em educação espírita. Um pouco de lógica, entretanto, mostra que a educação é um meio de transmissão de cultura e a alteração trazida pelo Espiritismo, nos campos do conhecimento, forçosamente teriam de repercutir na educação. Kardec nos mostra que a Educação Espírita começou na sua forma mais tradicional, ou seja, no seio da família.
A tarefa da Educação Espírita é a formação de um homem novo, autoconsciente, responsável direto pelo que lhe acontece.
J. Herculano Pires, no livro Pedagogia Espírita, faz um resumo da educação em todas as fases da humanidade. Ele nos diz: “Educação Clássica Grego-Romana formou o cidadão, o homem vinculado à cidade e duas leis, servidor do Império; a Educação Medieval formou o cristão, o homem submisso a Cristo e sujeito à Igreja, à autoridade desta e aos regulamentos eclesiásticos; a Educação Renascentista formou o gentil-homem, sujeito às etiquetas e normas sociais, apegado à cultura mundana; a Educação Moderna formou o homem esclarecido, amante das Ciências e das Artes, cético em matéria religiosa, vagamente deísta em fase de transição para o materialismo; A Educação Nova formou o homem psicológico do nosso tempo, ansioso por se libertar das angústias e traumas psíquicos do passado, substituindo o confessionário pelo consultório psiquiátrico e psicanalítico, reduzindo a religião à mera convenção pragmática. Cabe, portanto à Educação Espírita formar o homem consciente do futuro, que já começa a aparecer na Terra, senhor de si, responsável direto e único pelos seus atos, mas ao mesmo tempo reverente a Deus, no qual reconhece a Inteligência Suprema do Universo, causa primária de todas as coisas. Não é mais possível educar as gerações novas segundo nenhum dos tipos anteriores de Educação. Daí a rebeldia que vemos nas escolas, a inquietação da juventude, insatisfeita com a ordem-social e cultural, ambas obsoletas, em que se encontram.”
A função da Educação Espírita é, portanto, a de agregar perspectivas novas ao processo educacional. No Livro dos Espíritos, Kardec nos diz que o homem tem sua liberdade aumentada à medida que se torna mais consciente e responsável. Essa é a finalidade maior da Educação Espírita: fazer o aluno conhecer suas potencialidades e a finalidade de sua existência na terra, tornando-o livre.
A Educação Espírita ainda está em permanente formação, não é um edifício acabado. Começando com Kardec, há mais de um século, segue sendo construída e aperfeiçoada em nossos dias. Por isso mesmo, somos todos convocados a participar desse processo de instrução, contribuindo cada qual da maneira que puder, para que ele se complete o quanto antes.
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