COMO MUDAR O BRASIL SEM MUDAR O BRASILEIRO?

Uma visão espírita sobre a corrupção no país

Por Benedita Oliveira

O mês de março será lembrado não só pelo tradicional estrago de suas águas, mas também por uma nova onda de protestos contra e a favor do governo federal. Foram 10 dias de agitação entre aqueles que defendem a atual administração e outros que cobram os governantes pelas dificuldades. Dessa vez, diferente de 2013, os protestos convergiram para a exigência de maior combate à corrupção e na defesa de punição para os personagens dos escândalos que permeiam o noticiário.

O caso da Petrobras tem ao menos um aspecto interessante no diálogo permanente que propomos em torno do desafio e da necessidade da reforma íntima, premissa fundamental da doutrina espírita. Ex-gerente da estatal, Pedro Barusco admitiu perante a Justiça e diante dos parlamentares da CPI da Câmara que aceita e recebe propina desde 1997 por uma iniciativa pessoal. Ele disse isso como se estivesse comentando um deslize menor, prosaico e sem importância.

Vendo o depoimento pela tevê, pensei em quantos pequenos deslizes cometemos diariamente, sem constrangimento, por considerarmos menores. É aquela fila dupla de carros na porta das escolas; é a cola em uma prova. Os exemplos são muitos e isso é tão corriqueiro, que não nos damos conta de que esses pequenos deslizes são o fermento de desvios de conduta maiores.

Acostumados ao pequeno, perdemos a referência do que é mais grave. E não nos damos conta do recado que mandamos para o nosso entorno: “veja, eu sou flexível, eu quero me dar bem”. É hora de tentar questionar e entender por quê uma pessoa faz curva tão brusca no caminho do bem. É claro que tem o corruptor do outro lado, mas certamente o assédio só gera frutos onde a terra é fértil. No mundo em que vivemos hoje – onde a ambição vem temperada pela competição e por uma cobrança social ainda mais forte por status – como manter a trilha reta? Como resistir aos apelos do orgulho, da cobiça e da inveja, da busca desenfreada pelo “ter”? E mais: como cobrar retidão dos governos, dos políticos e do Judiciário se no dia a dia compartilhamos deslizes em uma escala menor, ainda impregnados pela Lei de Gerson?

A solução dos problemas do Brasil passa necessariamente pela educação e conscientização do seu povo, na direção de uma nova cidadania. E isso não como ferramenta de disputa política, mas como caminho para uma mudança cultural que permita à nossa sociedade resgatar e cultivar valores mais sólidos e alinhados à prática do bem. Educados, conscientes e com valores mais elevados, certamente teremos maior clareza de nossos deveres e direitos, do que é certo e do que é errado.

A consciência leva à mudança individual, à reforma íntima que buscamos, mas sua pulverização cria um movimento maior, pode levar uma sociedade inteira a abraçar um novo pensamento e uma maneira diferente de viver. Se cada um der um passo no caminho do bem, mais que reconstruir a própria trajetória, forçará mudanças a seu redor. Essa premissa está muito bem fundamentada em diversas passagens da doutrina espírita. No Livro dos Espíritos (na pergunta 932), Allan Kardec oferece reflexão útil para os dias de hoje, quando pergunta por que os maus preponderam na face da terra. A resposta dos espíritos superiores não poderia ser melhor: “Os maus são intrigantes, porém ousados. Os bons são tímidos. Porque os bons sempre foram maioria na face da terra, quando assim o quiserem preponderarão”.

O momento que vive o país exige reflexão profunda em torno dos nossos valores e conduta. Peçamos ao nosso Pai Maior e à espiritualidade amiga que conduza a todos nós, incluídos aqueles que hoje representam os três Poderes, de volta ao caminho do bem. E mantenhamos a reforma íntima como desejo e busca diárias.

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