CORRENTE DE ORAÇÃO EXIGE COMUNHÃO COM DEUS
Doutrina espírita enxerga benefício da prece coletiva, desde que sincera e em sintonia com o Criador
Da Redação
“Solicite à divina providência que torne real o seu pedido. Feche os olhos com fervor e apenas peça. Seu desejo agora se tornará verdadeiro. Obedeça cuidadosamente, é recompensador!!! Acredite nos seus sonhos, eles podem e vão acontecer… Deus tem visto suas lutas. Deus diz que elas estão chegando ao fim. Uma benção está vindo em sua direção. Se você crê em Deus, por favor, envie esta mensagem para 20 amigos. Não ignore, você está sendo testado!!!! Se acredita em Deus, envia esta mensagem a 20 pessoas. Dentro de 4 minutos te dirão uma notícia boa“. Você já deve ter recebido uma mensagem como essa por e-mail ou pelo celular. Você já deve ter repassado mensagens assim torcendo para que seu desejo fosse atendido. Você já replicou uma mensagem como essa temendo cortar a corrente e sair prejudicado ou prejudicar quem encaminhou pra você… Você já deve ter-se irritado ao receber uma mensagem como essa. As correntes com oração continuam entre os hábitos dos brasileiros e agora, com a popularização da internet, tem espaço também nas redes sociais. Não se sabe ao certo sua origem e as dúvidas em torno de seus efeitos permanecem, mas a doutrina espírita contribui ao esclarecimento: em síntese, o Espiritismo não aceita em suas práticas a oração que prometa milagres, mas enxerga na prece coletiva benefícios sempre que vinculadas à combinação entre um desejo sincero de praticar o bem e a permissão de Deus para o alcance dos efeitos desejados.
Há uma diferença clara e relevante, que justifica a premissa espírita: a corrente de oração aglutina um grupo de pessoas em prece, exige sintonia com Deus e pode favorecer a intenção elevada por seus participantes; mas uma corrente com oração pode não surtir efeito algum, pois está atrelada apenas à busca de objetivos materiais e associada ao mero repasse de mensagens. “Jesus nos ensinou que quando dois ou três estivessem reunidos em seu nome ele estaria presente entre eles. Necessário se faz, entretanto, que a prece não seja um ato meramente convencional ou supersticioso. As nossas orações devem estar encapsuladas em sentimentos sinceros e na fé que remove montanhas“, diz André Campos, diretor do departamento de assistência e projeto social do Grupo Espírita Abrigo da Esperança (GEAE).
A disseminação de correntes com oração – em que se recomenda a devoção a um santo ou associada a um pedido específico, vinculando expectativa de fracasso ou prejuízo se houver interrupção – é um assunto polêmico em todas as denominações religiosas. Em geral, esses conteúdos prometem milagres ou surpresas. Seu uso já foi associado à superstição e ao paganismo. A despeito da controvérsia, o brasileiro cada vez mais recorre à oração coletiva em busca de alívio para seus problemas e conquista de objetivos específicos. “Somos ainda muito supersticiosos. Jesus nos concitou a conhecer a verdade, pois a verdade nos libertaria da ignorância e das superstições. Procuramos atalhos para fugirmos do caminho estreito que Jesus nos convidou“, diz André. Mas, afinal, o que acontece quando alguém recebe uma dessas mensagens e não passa adiante, cortando a corrente? “Não acontece nada!”, avisa o diretor do GEAE. “Isso apenas mostra o quanto estamos distantes do conhecimento das Leis Divinas. O medo é fruto do desconhecimento das verdades eternas. Pura superstição“.
SINTONIA COM DEUS – Codificador da doutrina espírita, Allan Kardec aborda esse assunto em diversos pontos de sua obra, tendo como ponto de partida a importância da prece em suas diversas modalidades e destacando seu poder de exercer uma ação direta e positiva sobre o espírito encarnado e desencarnado. Em O Livro dos Médiuns (2ª parte, cap. XXV, item 282-17ª), Kardec nos diz: “(…) a virtude dos talismãs, de qualquer natureza que sejam, não existem senão na imaginação das pessoas crédulas. ” A doutrina é clara: toda oração será bem recebida pelo Criador se fruto da sinceridade e associada ao desejo e à prática do bem. “O Espiritismo não adota quaisquer simpatias, talismãs ou amuletos, porque levam as pessoas a buscarem segurança em crenças materiais, exteriores e não na sua reforma íntima e na prática das virtudes ensinadas por Jesus“, explica André. “Se encararmos as correntes com orações como se fossem “simpatias” para atingirmos determinado objetivo, estaremos abrindo mão da lógica irretorquível que caracteriza a Doutrina Espírita“, frisa.
No capítulo em que discute a ação da prece, no Evangelho Segundo o Espiritismo, o codificador qualifica a oração e sua importância: “A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem à vontade de Deus.“, aponta Kardec.
André Campos lembra também de Emmanuel, mentor espiritual de Chico Xavier: no livro Vinha de Luz, ele nos diz que “(…) em qualquer posição de desequilíbrio, lembra-te de que a prece pode trazer-te sugestões divinas, ampliar-te a visão espiritual e proporcionar-te consolações abundantes; todavia, para o Senhor não bastam as posições convencionais ou verbalistas“. O diretor do GEAE afirma que a prece coletiva, quando sentida e verdadeiramente partindo do coração, amplia o seu poder de ação. “Infelizmente as correntes com oração são transmitidas de forma aleatória, lidas quase que mecanicamente e sem a necessária comunhão de pensamentos e emoções com o Criador, tornando-as inócuas e ineficazes“, comenta. “A oração em conjunto tem uma ação mais poderosa quando todos se associam de coração a um mesmo pensamento e possuem o mesmo objetivo“, conclui.