AMOR E PERDÃO
Recursos terapêuticos para o manejo do estresse
Por Rodolfo Castro
Na edição de (julho/2015) conversamos sobre a relação existente entre os pensamentos/emoções e saúde. Verificamos que, para sermos saudáveis, precisamos manter um padrão de emoções e pensamentos saudáveis e, para isso precisamos desenvolver um novo repertório emocional e, por consequência mental, mais adequado aos valores que devemos desenvolver. Na presente edição, iremos aprofundar os estudos sobre o papel terapêutico do amor e do perdão na busca de uma vida mais saudável.
Para isso, vamos nos basear nos conhecimentos oriundos das ciências médica, psicológica e espírita, especialmente, nas pesquisas da Psiconeuroendocrinoimunologia (PNEI), área do conhecimento cuja função é considerar o impacto das nossas emoções (ou estados mentais) sobre sistemas nervoso, endócrino e imunológico.
Não faz muito tempo (a partir da década de 1950) que as ciências biomédicas começaram a investigar a relação entre os estados mentais (e emocionais) e os quadros patológicos, especialmente, para pesquisar os efeitos do estresse no organismo.
Por estresse, deve-se entender o conjunto de reações orgânicas que uma pessoa sofre em seu organismo, quando passa por algum desequilíbrio, não importando o que gera esse desequilíbrio, de forma que fatores emocionais, físicos e hormonais podem promover essas alterações. E por que não acrescentar os fatores espirituais também.
O estresse, por sua vez é um mecanismo normal, necessário e benéfico ao organismo, pois faz com que o indivíduo fique mais atento e sensível diante de situações de perigo ou de dificuldade. Não à toa, o estresse é dividido em dois tipos: eustresse e distresse. O primeiro é chamado de estresse positivo, visto que as demandas são motivadoras na busca de soluções criativas para as situações que se apresentam. Já, o segundo tipo, o distresse ou estresse negativo, é fonte de angústia e de distúrbios e ocorre quando somos submetidos a uma fonte de estresse de difícil manejo por um longo período.
Logo,
Mas, como isso se dá em nosso corpo? No início, as situações estressantes não são prejudiciais (eustresse), porém, quando o cérebro se depara com situações prolongadas de estresse (distresse), as quais fazem com que haja mudanças químicas, na temperatura e na pressão sanguínea do corpo, o hipotálamo dá início a Síndrome Geral de Adaptação (SGA).
Durante o estresse, o organismo humano sofre uma série de alterações hormonais. Na SGA ocorre uma enorme liberação de hormônios que vão desde o hipotálamo até as glândulas supra-renais. Esse eixo recebe o nome de eixo hipotalâmico-hipófise-adrenal (eixo-HHA).
A SGA é composta pelas reações de alerta, de resistência e de exaustão. Na fase de alerta há hiperestimulação do hipotálamo, da hipófise e das glândulas adrenais, de forma que ocorre aumento dos níveis de adrenalina, cortisol e glicogênio, substâncias que, por sua vez irão preparar o corpo para situações de luta ou fuga, evento biológico, no qual há um grande gasto de energia. Significa dizer que o corpo entende que precisa enfrentar a situação ou fugir dela.
Com o passar do tempo e a persistência dos fatores estressores, o organismo entra na fase de resistência. Nessa fase, há aumento no volume das glândulas supra-renais (aumento da liberação de cortisol e adrenalina) e atrofia do baço e de outras estruturas do sistema imunológico (diminuição na capacidade de defesa do corpo). Significa dizer que nessa fase, a de resistência, o organismo começa a se acostumar com o estresse, mas isso não é algo bom, pois, havendo continuidade dos fatores estressores, o organismo entra na fase de exaustão.
A fase de exaustão é marcada pelo esgotamento do corpo. Ocorre enfraquecimento dos órgãos, diminuição da energia e dos recursos de adaptação. Há destruição de nutrientes e desgaste da energia mental, resultando em queda na produtividade e capacidade de trabalho. É partir daí que o indivíduo pode adoecer e quando não tratado, pode morrer, visto que seu sistema imunológico não consegue mais proteger o organismo de substâncias estranhas e prejudiciais (antígenos).
Em linhas gerais, quando atingimos, em decorrência do distresse, um quadro de desgaste orgânico e psíquico profundo, diminuímos nossa capacidade de sermos agentes de nossa própria cura.
Diversos estudos apontam que nossos estados emocionais e mentais promovem o distresse em nossos corpos. As pesquisas apontam que sentimentos, tais como: pessimismo, ciúmes, cólera e ódio são capazes de ativar o eixo-HHA aumentando a resposta hormonal, sobrecarregando o organismo e diminuindo nossas respostas imunológicas. Porém, o contrário também é possível.
As mesmas pesquisas indicam que sentimentos de otimismo, tolerância, fraternidade e amor ativam o mesmo eixo-HHA diminuindo a resposta hormonal e aumentando a resposta imunológica, o que implica em um organismo mais saudável.
Há tempos, as assertivas de Jesus voltam-se ao convite para amarmo-nos e perdoarmo-nos, pois, entendia que amar é fator essencial para termos uma visão mais otimista e fraterna em relação à vida e as
O otimismo não é uma perspectiva ingênua da vida, mas, acima de tudo é a capacidade de, mediante a crença da vida futura e, na conseqüente imortalidade da Alma, entender que todos os acontecimentos têm um fim útil, pois, há um Deus bom e justo, comprometido com nosso bem-estar.
Joanna de Ângelis (Conflitos Existenciais, capítulo 16), a esse respeito, estabelece que a crença na vida futura e na destinação gloriosa de cada um de nós é a melhor autoterapia anti-estresse que existe.
Ademais, o Cristo também falava da importância do perdão. O perdão deve ser entendido como a oportunidade de sairmos dos padrões viciados de pensamentos e emoções, os quais levam a posse, a dependência afetiva e as fixações mentais. O ciúme, por exemplo, decorre da posse, a qual está vinculada a crença distorcida de que só amamos o que possuímos. Contudo, como todos somos livres, sentimo-nos frustrados e adoecemos.
Jesus entendia que precisávamos desenvolver um novo repertório de pensamentos e emoções, por isso veio falar de amor e perdão. O Espiritismo, como doutrina cristã, vem reafirmar esse ideal, por também entender que ambos os sentimentos são fatores promotores de saúde e bem-estar.
Dessa maneira, se somos ciumentos, pessimistas ou coléricos, o somos porque temos nos constituído assim ao longo de diversas vidas. E, nossas doenças são compatíveis com essa nossa matriz psíquica doentia. Contudo, se já nos apresentamos fraternos e amáveis, estamos modificando essa matriz psíquica.
Enfim, a saúde que tanto almejamos é uma construção baseada na capacidade de amar e amar-se, perdoar e perdoar-se.